domingo, 18 de julho de 2010

4. Percepções de um dia frio.

A chuva escorria verticalmente no espaço entre o céu e o chão. Ventava, fazia muito frio. Ainda assim, caminhou 200 metros e chegou até a praia.

Na noite anterior, o mar tinha invadido a avenida que separava a praia das casas ao redor. Tamanha a força da água, que várias coisas tinham abandonado as calçadas e migrado para a areia. Nas ruas, ainda havia água limpa e salgada acompanhada da fina areia, antes branca, hoje cinzenta.

Tudo era cinza. O mar, o céu, a neblina, a areia, a espuma das ondas. Fortes ondas, forte vento. Teve que fazer muita força para não deixar que o guarda chuva fosse levado para longe. Olhou para os lados, e não via a serra que viu no primeiro dia na cidade. Via brumas pálidas, água azul-cinzenta, e uma praia deserta. Ainda que o tempo não fosse apropriado para a situação, ela apreciava aquele perfume de mar que a invadia e envolvia.

Apesar do tempo ruim, a água estava quente, e era como se estivesse pedindo para que ela não fosse embora. Ela se afastava da água, e a água ia cada vez mais longe buscá-la. A cada onda que chegava, ela se afastava mais. E a água ia cada vez mais longe, como se quisesse ir com ela aonde quer que ela fosse. Mas ela tinha que ir embora.

Ela não queria ir embora, mas não queria ficar. Era um lugar belo, mas apenas aonde existe areia e mar. Relevo serrano, clima agradável nos dias normais. A mata atlântica cobria os morros, encantando com sua beleza e sua biodiversidade. Mas os dias frios a deixavam fria, e ela não queria isso. Dias frios eram bons, mas eram frios, e eram a 200 metros da praia.

Se não houvesse chuva, ela saberia aproveitar os dias frios. Mas como estava no quarto de seus pais, não pode aproveitar o tempo de reflexão que poderia ter. a todo momento, era uma ordem nova, uma frase inesperada, uma observação incomum. Nada tão reconfortável quanto seu edredom de estampa floral e seu travesseiro.

Isso a deixava fria, e ela não queria isso.

Mas ao caminhar em direção às ondas, ela se lembrava do que ficou para trás, mil quilômetros ao noroeste. Se lembrava que o que ficou para trás valeria a pena qualquer palavra, qualquer dia frio.

E no fim, impressionou-se em descobrir que conseguiu perceber a beleza em uma visão melancólica, preservando dentro de si sua esperança e sua felicidade.

2 comentários:

  1. preservando dentro de si sua esperança e sua felicidade.'

    eu te amo! *-*
    tá tão lindo por aqui, tão laranja, tão paola!

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  2. Há muita felicidade envolvida nisso tudo.

    Beijo!

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