quarta-feira, 23 de abril de 2014

Príncipe Sem Rosto

"Mais um caso de amor para o arquivo morto. Durou pouco mais de três dias (ah, eu e meus padrões). Suspensa por um favor, a situação se alongava. Um passaporte. Que irônico, uma analogia entre a permissão para imigrar pra onde quer que fosse e a minha posse do documento era o que ainda nos ligava.
Pois bem, hora de voltar ao projeto inacabado de construção do Príncipe Sem Rosto. Um alívio que eu tenho para mim e para manter um pouco de esperança. Meu Frankenstein que se baseia em qualquer característica minimamente atrativa, momentânea ou que me fascine há muito. Talvez esse protótipo de homem me mantenha longe da realidade e me impulsione a se afastar dela ainda mais. Quem sabe será ele a fonte dos meus males e fraquezas. Matar o príncipe pode ser a solução. Sepultado ele segurará meu olhar rumo ao vazio, em seu aguardo. Um eterno retorno que se estende pelos anos que me engole.
O Príncipe Sem Rosto é assim chamado pois não é ninguém e é todos ao mesmo tempo. Vislumbro sua face conforme meus humores (e amores) se alterando conforme o outro lado do leito esfria. Às vezes busco um rosto antigo nas seguranças das lembranças por mim moldadas, fruto dos meses que se tornam anos e perdura o que eles tinham de agradável. Imortalizado te faço em minha memória, teu melhor eu retenho e teu defeito desfaço."




Por: Moisés Vieira