sábado, 21 de julho de 2012

Wouldn't want to change a thing.

Aeroportos são ambientes cheios de inspiração bucólica. Sempre cheio de sentimento, de dores da partida, e expectativas da volta. Seja como for, aeroportos são, à sua maneira, especiais.

E foi em um aeroporto que eu derramei as lágrimas mais doces de que já me lembro.

Enquanto a escada saia da porta do avião, eu revivi todos os minutos daqueles dez dias. Cada momento parecia ter durado uma eternidade - infinito este que passou em segundos.
E apesar de já saber que isso aconteceria, lá estava eu, em choque com a experiência. Não há como se preparar para essas coisas, você sabe. O vazio chega arrebatador e impiedoso, como uma chuva inesperada de verão.

Aos poucos, o avião se movia, ainda lentamente. Enquanto ele dava ré, eu me lembrei daquela fatídica tarde, no portão de desembarque. Seu abraço, seu perfume. Suas mãos trêmulas, seu deslocamento em um lugar desconhecido, minha insegurança, eternamente presente.

O avião se virava, e a tarde no parque se arrastava com ele. A grama cheia de espinhos, o cão voraz, as crianças, o óculos. Sua frequência cardíaca, e minha insegurança. Seu calor, que fazia sumir meus medos. O sol na minha pele, que por mais que me queimasse, não me convencia a sair do seu abraço.

As luzes piscavam, e os assistentes de pista começavam a sair de perto da aeronave já posicionada. E o barulho das outras turbinas se misturava com o silêncio sepulcral da minha sala, durante o jantar. Começava a fazer frio, como na sala do cinema aonde vimos o último da Marvel. Frio que você fez questão de afastar com aquele abraço que só você sabe como dar.

E enquanto discutíamos sobre aonde estava o Cruzeiro do Sul, aparecia na tela das partidas que seu voo estava "decolando". Pura mentira, eu pensava. Ele ainda está aqui, e estará sempre que eu precisar. Estará ali ao lado, sempre que eu me frustrar com alguma coisa.

Pista livre, o avião começava a ganhar velocidade. Uma declaração apressada, um abraço corrido. O ar parecia insuficiente agora, como era quando você respirava todo ele perto do meu rosto, quando inspirávamos e expirávamos coerente e sincronizadamente.

E enquanto muitas famílias pediam para que os minutos passassem mais rápido, adiantando as chegadas, eu torcia para que o tempo voltasse, apenas duas horas, enquanto eu te acordava, sem imaginar que aqueles eram os momentos mais felizes que eu poderia ter em semanas.

Quando as rodas deixaram o chão, algo lá dentro de mim pareceu perceber o que estava acontecendo. Não é justo, eu pensava. Não é certo, não era pra ser assim. Você não devia ir, precisava continuar aqui, me atentando a cada dois minutos.

E quando eu perdi de vista as luzes que piscavam, meus olhos chegaram ao limite, transbordando o que eu tinha guardado durante esses dias. Me virei e desci as escadas com aquela cara vermelha e emburrada que você conhece bem. Não pode ser assim, não está certo, eu continuava pensando.

Ao pegar uma das entradas na BR, sem querer, levei a mão ao lugar aonde estaria seu joelho, enquanto você cantava Slide Away, na minha mente. Era mais do que eu conseguia aguentar.
Estava tão acostumada com seu abraço, que de repente me senti só, desolada.

E mesmo que você só tivesse ido há dez minutos, a falta que fez poderia ser descrita como uma ausência de décadas.
Seu cheiro, o som da sua risada. Suas mãos inconvenientes, seus passos leves se preparando para dormir na minha sala. Sua preocupação ao olhar em volta na praça, seu cuidado em me fazer feliz. Seus fatos constatados, sua ironia sobre minha preguiça.

E mesmo que eu fosse uma mestre na arte das palavras, não saberia descrever o quão sublime era perder para você nos jogos de sala, ou rir de você me deixando ganhar no xadrez.
E assim como eu, ninguém mais saberia explicar o campo eletromagnético criado entre nós dois. Ninguém saberia dizer porque nosso riso contagiava quem estava ao redor.

Este apartamento dificilmente será o mesmo, agora que você não está mais aqui. Mas aguarda ansiosamente pelo dia que seu sorriso voltará a iluminar as noites frias em que se transformará minha rotina daqui para frente.



"Now the sky could be blue, could be grey,
without you I'm just miles away.
Oh, the sky could be blue, I don't mind,
without you it's a waste of time."