domingo, 28 de novembro de 2010

Contos Reais, Surreais e Irreais: "This guy is'nt in love with you"

Ainda havia nele muito dela. Lembranças, esperanças, desejos, sorrisos, palavras.
Ele sabia que não a esqueceria facilmente. Ela habitava com frequência seus sonhos e seu pensamento, fazendo-o se sentir mal por semanas inteiras. Ela arrancava dele muitas lágrimas, arrancava a vontade de sorrir, de falar, de viver e de conviver. Ele não podia evitar. Metade dele queria que isso acabasse, a outra metade continuava frequentando o sofrimento de hora em hora, voluntariamente.
Mas quem mais sofria com isso não era Artur.




Flávia via aquilo tudo com um misto de rancor e compaixão. Como poderia, um homem como Artur sofrer daquela maneira? 
"Ela não o merece", pensava Flávia sempre que presenciava a via crucis do amigo. E ela sempre presenciava isso. Todos os dias, todas as horas do dia. Era demais para Flávia, perceber que alguém tão querido tinha problemas, e não poder fazer nada.


Se comunicava com Artur por cartas, telefonemas e internet. Havia um bom tempo que não se viam pessoalmente - mais precisamente um ano -  desde que Flávia se mudou para São Paulo. Ela sentia falta de sorrir com Artur, de comer doce de leite com pão de queijo, de cantar no karaokê, de sentir seu abraço protetor. Sentia que ele precisava dela neste momento, mas não podia fazer muita coisa.


Então, finalmente, suas provas terminaram, os professores resolveram não fazer chamada mais. Férias, enfim.
E qual foi o primeiro pensamento de Flávia? Voltar para Goiânia. Cantar denovo no karaokê, comer pão de queijo com doce de leite. 
E foi o que ela fez. Comprou a passagem, ligou para os primos pedindo hospedagem, aprontou as malas, e rumou para o aeroporto.
Lá chegando, viu exatamente o que queria... Mas perdeu o fôlego, quando reparou no que estava ao redor. Ali estava Artur, com a menina que tanto o fazia sofrer. 


No transcorrer dos dias, Artur se decepcionou mais uma vez. Não cabe aqui contar o porquê.
Ainda que aliviada, Flávia sentia Artur distante, melancólico. Cada dia mais, e mais, e mais. 
O cinema não tinha mais emoção, o karaokê rodava apenas músicas tristes, o pão de queijo com doce não tinha mais gosto. Mas ainda restava uma coisa...
[...]


- Artur, me abraça.
- Por quê?
- Só me abraça.


E ali ficaram, abraçados. Era, sem dúvida, algo belo de ver - uma noite clara, cheia de estrelas, em uma praça perto da casa aonde Flávia estava.
Naquela noite mesmo, ela tomou uma decisão. 


Artur acordou no dia seguinte, sentindo-se péssimo, como de costume. Foi até a cozinha, e sua mãe lhe entregou um papel, fechado em um origami de gaivota. Na asa, estava escrito "Artur: Abra".


- Quem te deu isso, mãe?
- Apareceu hoje, no chão, por debaixo da nossa porta. Acho que colocaram antes que eu acordasse.


Artur foi até seu quarto, sentou-se na cama, e abriu o origami. Lembrou-se, com dificuldade, que só quem desenhava o P daquela forma, era Flávia. 


Um pouco trêmula e modificada, a letra da amiga dizia:


" Partirei hoje. Foi 'bom' revê-lo. "






Flávia decidiu escolher, das duas feridas, aquela que menos doía. Preferia sentir saudades de Artur ao vê-lo assim. O auto-falante chamou seu voo, e ela foi relutante para a sala de embarque. Mas enquanto chegavam sua documentação, passavam o detector de metais e despachavam suas malas, ela se pôs a pensar:


"Por que eu sinto uma dor tão forte sob meu esterno? Por que eu não consigo parar de me lembrar da chegada no aeroporto? Por que, eu estou indo embora tão chateada? POR QUE, POR QUE RAIOS EU ESTOU CHORANDO?"


E quando chegou no pátio, em frente à escada do avião, se deu conta de todas as respostas... Que, na verdade, se resumiam em 3 palavras.


Fez questão de ser a última da fila. Subia vagarosamente as escadas, como se esperasse que alguém a impedisse de embarcar. No último degrau, olhou para o aeroporto. Era, sem dúvida, uma arquitetura que agradava sua visão. Seus olhos, então, cairam sobre a imensa janela do segundo andar do aeroporto.  




E sentiu sua garganta se enrolar em um nó, e suas vísceras querendo sair de seu corpo. 
Lá estava ele.


Reconheceu  seu corpo baixo, levemente forte, seu cabelo escuro e seus olhos grandes e brilhantes. Reconheceu seus braços longos apoiados no encosto que ficava perto daquela parede, aonde Flávia já havia se apoiado muitas vezes.


Não pode ver que feição sua face expressava. Mas ele, certamente, não sorria, e nem acenava.








(Post escrito ao som de: "This guy's in love with you"  Burt Bacharach, interpretada por Noel Gallagher; "Mr. Writer" - Stereophonics; "Fake Plastic Trees" - Radiohead.)

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Ha. Ha.







É engraçado ler isso sob o nome dela.
Adoro ironias.






"Desfila sua vida cor-de-rosa, e eu caso com o Diabo...


Você não me conhece."













(Post escrito ao som de Você não me conhece - Jay Vaquer)
Eu não consigo entender....



Finalmente consegui o que queria, o que precisava....
Ouvi aquilo que sonhava há anos...
E não estou feliz. Muito pelo contrário, estou infeliz.

É como estar no topo do mundo, e ter esquecido alguém querido lá embaixo.








Se é assim, prefiro estar lá embaixo. Ao menos, terei motivos para me sentir assim.




É estranho, quando depois de 3 meses se sentindo um nada, você de repente fica bem, e alguém diz que seu olhar está triste. Só então se preocupam com você. Só então veem que você é alguém, que apesar de calcular cada passo, está passível aos sentimentos humanos. Só então veem que você precisou de ajuda, e que passou da hora de dar. 
Mas agora, você não precisa. Entretanto, sabe que precisará em breve, mas o que é pior: sabe que não terá, quando precisar.



Então, eu tive o que eu precisava, mas na hora errada.




(Post escrito ao som de Comfortably Numb - Pink Floyd)