terça-feira, 11 de novembro de 2014

Quem com o ferro não fere, será ferido também...

"Você não me conhece
Mas me ama pra sempre porque te convém
Desaparece
Se pinta outro atalho
Não sou mais ninguém

Me deprime, me derruba
E depois reza por mim
E o meu crime, apagar as velas antes do fim

Você começa esse jogo chato e eu acabo
Manda seu Boeing na torre, não desabo
Desfila sua vida cor-de-rosa e eu caso
com o diabo...

Na sua ironia burra, dou cabo
Meu bem, nem tô passando pires, nem babo
Enfia sua vida cor de rosa no rabo!
Pro diabo ..."



Música: Você não me conhece - Jay Vaquer

quinta-feira, 21 de agosto de 2014

'Cause harmless medications abound, and you're not sick...

Existe algo de intrigante na minha vida, algo peculiar.
É comum ver pessoas que caem facilmente na zona de conforto, que se entregam a uma rotina calma e previsível. Também é frequente encontrar aqueles que são desafiados, mas permanecem tranquilos em seu caminho. Uma reta com curvas suaves.

Mas não comigo.
A minha vida... Ah, ela é uma montanha russa. E, (in)convenientemente, me fizeram entrar vendada no carrinho. "Hoje aqui, amanhã não se sabe..."
Exatamente.

Creio que o Universo (ou Deus, se assim preferir) provenha isso propositalmente, para desafiar aqueles que precisam manter o controle de tudo. Ele faz com que nos apaixonemos pelo caos, nos faz admirar o desconhecido. Bloqueia a via principal, remove todos os acessos, e nos obriga a traçar um caminho próprio. Sem mapas, sem guias, sem socorro. Só você, seus instintos, e sua consciência.
Não há como prever, como controlar. E eu, com a minha insegurança (que eu imaginei já ter abandonado), busco inutilmente tentar compreender o que não há lógica. E permaneço me machucando na tentativa.

Será que algum dia eu vou aprender?

terça-feira, 19 de agosto de 2014

‘Cause you and I, we were born to die.

E, mais uma vez, a vida mostra que pode ser cruel quando quer.
Dentre as coisas mais desagradáveis que existem, está o arrependimento. Por ter feito algo errado, ou por não ter feito nada. Mas, ao menos para mim, nada é mais frustrante que não ter a chance de tentar.

É como ver uma imagem vívida dissipando-se na neblina, e indo embora com o vento. Uma promessa não cumprida. Desejar, conseguir, e ter aquilo roubado de si antes mesmo que chegue às suas mãos. Um "aborto espontâneo".

Isso tem me acontecido com certa frequência, infelizmente.
Dois grandes sonhos, nutridos desde a infância, alimentados com carinho e esperança. Esperança em dias mais coloridos, mais brilhantes. Meus dias, por um longo tempo, se basearam em esforço e preces, buscando, tentando, falhando, esperando, torcendo. E, assim de repente, a oportunidade surge, e é a minha hora de fazer por onde...


E fim. A chance é tomada de mim antes que eu possa fazer algo - exatamente no momento que eu a percebo. Ou até antes. E eu me sinto perdida, sem chão.
A vida ata meus braços, mas se esquece que minha mente ainda corre, ainda anseia. E com uma forma artística de torturar, presencia meu silêncio consternado enquanto assisto tudo passando, sem poder fazer nada. E se ri de mim, do meu desespero.


Você era um dos meus sonhos. Não o mais desejado, é verdade... Mas não menos importante.
Eu já sabia que você era uma porta fechada, mas estaria disposta a escalar até a janela.
Então, com a mesma intensidade que você apareceu, você se foi.
E eu fiquei aqui, encarando o ônibus vazio que eu perdi, perplexa; obrigada a esperar pelo próximo, e assim, poder ir para casa.

domingo, 27 de julho de 2014

Depois a gente vê (por mmerteuil)

"Pediram-lhe palavras. Há algum tempo já, ela só tem usado as roubadas, de poemas e canções. Debruça-se sobre as palavras alheias, que a traduzem tão bem que ela se comove de se ver ali, desnuda e descrita. Sempre achou que empunhava as palavras tão magistralmente e hoje elas lhe faltam. Ou sobram. Nunca na medida. Como o que ela sente, também tão desmedido. Tão desafiador, desestruturador de tudo o que ela sempre pensou ser, que viveu até aqui, que acreditou.
 Ele faz doerem nela dores que ela nem sabia que existiam. E a faz gozar prazeres de que  tampouco desconfiava. Perfurantes. Ele confronta suas teorias sobre amor e liberdade, testa seus limites, grava no seu corpo e na sua memória as sensações mais extasiantes, enquanto crava nela o ferrão da dúvida, os dentes do ciúme, as unhas da inquietação. Fugidio, esquivo, tantalizante. Ela? Experimenta, permite-se, tenta, testa. Alonga. Paga pra ver.
 Já partiu, já voltou, chora muito, ri outro tanto, pensa demais. Tudo demais. Cores, dores, luzes, faltas, explosões, desejos. Esperas. Essa coisa de pensar sobre o tempo. Muito cedo, tarde demais, intervalos, ocasiões, agora, nunca, sempre, velocidade, duração, logo, quando, tempos paralelos, tempos comprimidos, tempo. E espaços. Frestas. Onde. Como.
 …..
Os olhos escuros que ficam quase cor de âmbar no amor.  Ela poderia ir morar naqueles olhos para sempre. Reduzida à carne sob as unhas, escondida nos sulcos da pele, no meio dos pelos, entranhada no suor dele, no sêmen, no gosto doce e úmido da boca.
 …..
Uma coisa é saber da falta e da angústia, mas viver todo o tempo diante da face crua dessa falta, na ausência de ar e no espanto desse buraco que nos constitui, também pode ser sintoma. Por isso, a gente cria uns véus, lança umas rendas diáfanas diante da realidade, usa uns filtros no enquadramento, para adoçar arestas, permitir caminhos.
 Entretanto. O caminho que ela percorre é escuro, instável. A cada passo, a incerteza. Cair no vazio ou criar, no próprio ato do passo, outro pedaço da estrada? Estrada que ela nem sabe se existe, ou onde vai dar. Claro que não existe. Nenhuma estrada existe a priori. Mas a gente às vezes inventa, projeta, imagina – lança os tais véus – e isso é muito reconfortante. Fazer planos, sonhar, construir futuros. Ainda que só de brincadeira, ainda que sabendo da ilusão. Adora um amor inventado.
Por um tempo viveu um amor assim, que prometia ser absoluto, completo. Foi tão bom acreditar. E tão sufocante manter. Hoje, experimenta a exacerbação da transitoriedade. De um lado, a ilusão de completude, da entrega que cobra, impiedosa, o preço da liberdade; de outro, o desconforto da impermanência, permanentemente desfraldada diante de si como um desamparo. No meio, ela. Um tanto atordoada. Que já não sabe o que deseja. Ou sabe só o que deseja, sem lógica ou juízo. O corpo dele no seu, as mãos, a boca, as pernas, os olhos. Os olhos dele nos seus, o fogo, o riso, a dor, a promessa muda e incompleta. Só hoje, só mais um dia, só até o próximo encontro. Depois a gente vê o que faz."



Por mmerteuil, em Biscate Social Club.
(Acesso em http://biscatesocialclub.com.br/2014/07/depois-gente-ve/)

sábado, 26 de julho de 2014

Lose is more than hesitate...

(...)
E então, percebi que eu, de fato, gosto de me machucar.
Sim, há algo aqui dentro que precisa punir-se, que clama por dores, um impulso que tende eternamente à autoflagelação. Existe uma parte minha que não se contenta com a anestesia, que precisa sentir.

E você percebeu isso, não foi?
Seus olhos não conseguiram esconder a surpresa ao notar o que eu realmente sou por dentro. Você me desvendou, removeu a capa de boa moça. Foi além do sorriso acalentador, do olhar compreensivo. Percebeu o que esconde a voz macia, a personalidade equilibrada.
Mas você não sabia o que estava vendo, o que tinha em mãos.
Se você quisesse, poderia ter visto, em minutos, a desordem que eu sou. Teria compreendido porquê eu sempre aviso que sou "difícil de lidar". Teria se surpreendido mais algumas dezenas de vezes.

Acontece que é exatamente este o meu ponto fraco. Me inquieta quando alguém tenta desatar o nó que eu sou. Como se só eu tivesse esse direito, mas admirasse aquele que o quisesse tomar de mim.
Existe uma blindagem forte ao redor das minhas confusões mentais. Mas aquele que é corajoso ou sortudo (ou ambos) o suficiente para vencê-la, me tem nas mãos.
Geralmente, eu sento e observo o que as pessoas fazem para conseguir isso. Aplaudo as manobras, avalio as investidas. Às vezes, facilito; na maior parte do tempo, dificulto.

Mas aí veio você. Chegou simplesmente para passar o tempo. Apareceu como mera distração - e sei que a recíproca era verdadeira. Logo você, cuja porta já estava fechada antes mesmo que eu pudesse fazer alguma coisa.
Mas foi justamente sua porta fechada, seu despreendimento, que te fez materializar-se do lado de dentro da minha blindagem. Sem esforços. Sem tentativas. Você simplesmente estava lá. Eu não vi o que aconteceu, embora saiba que você não o fez de propósito. Ou fez?

Estou confusa, já não sei o que pensar. Não estou apaixonada, envolvida. Estou impressionada.
É uma sensação nova para mim.
Você foi uma pessoa nova para mim, totalmente diferente de tudo o que eu já vivi.
Na verdade, eu ainda não sei o que é você. E isso só aumenta minha inquietação. Você está ali, comigo em suas mãos, e não sabe. Enquanto eu não faço ideia do que você é.
Você tem alguma noção do que isso significa para uma menina mimada, controladora e reclusa dentro de si? Você sabe o que é querer (e sempre ter) tudo, estar acostumado a controlar aquilo que está ao redor, e de repente, se ver nas mãos de alguém que não tinha a menor pretensão que isso acontecesse?
Sabe como eu me sinto?

Excitada. Curiosa. Intrigada.
Eu quero mais.

terça-feira, 24 de junho de 2014

"And so my heart is payin' now for things I didn't do..."

Olho o sol claro lá fora, e não consigo compreender por que faz tanto frio aqui dentro. Todas as janelas do apartamento estão fechadas, evitando que o vento entre. Mas ele insiste, e traz arrepios à minha pele.
Ou serão os arrepios causados por outra coisa?

Por incrível que pareça, a temperatura do meu quarto encaixa-se perfeitamente como uma metáfora da minha vida. Céu azul, dia bonito, a cidade está cheia de vida lá fora. por fora, eu sou toda sorriso e movimento, como a viva fachada do meu prédio.
Lá fora. Por fora.

Aqui dentro, na minha mente, tudo é frio e cinza. Com um pouco de laranja das minhas fronhas e toalhas, mas sempre frio. Sempre vazio. Eu sempre estremeço quando entro debaixo dos meus cobertores alaranjados e floridos. Faz frio, e o espaço ao meu lado está vago.
Me falta companhia para aquecer as noites? Sim. Porém não.
O lugar vazio que aqui está não pertence a ninguém - foi uma lacuna que eu mesma deixei de preencher, esperando que outros ares e novos perfumes enriquecessem meus dias. Assim como eu sempre tento incrementar vácuos alheios. Sempre fui uma porta aberta, uma janela sem cortinas, sem travas, esperando que um fluxo de coisas passasse por mim.

Mas agora, por mais que a lógica não consiga explicar, eu fechei a porta, embora não tenha trancado à chave. Bloqueio o vento, mas tudo o que consigo é me isolar dentro de um apartamento frio, invejando o calor, a cor e a luz que estão lá fora.

domingo, 22 de junho de 2014

Am I living it right?

E lá estava eu novamente, em mais um capítulo dessa nova aventura que me propus. Desta vez, não havia ansiedade, frio na barriga, mãos geladas, preocupações gerais. Eu já estava me habituando. Já conseguia olhar em seus olhos por algum tempo, sem corar. Já conseguia permanecer em teus braços sem me sentir uma tola garotinha. Sem me preocupar em parecer uma tola garotinha.
Ali estávamos nós, somente respirando juntos. Ali estavam as batidas do seu coração, suas mãos suaves nas minhas costas.

Mas você não estava ali.

Apesar de declaradamente desimpedido, ali estava a foto de uma bela mulher na proteção de tela do teu celular. Você me mostrou sem querer. Não sei quem é, e honestamente, não me interessa. O que importa, é que mais uma vez, eu me deparei com uma porta fechada.
Nem todos os meus suspiros e risos foram suficientes para destrancá-la. Você estava cercado por arame farpado: se mostrava para mim, mas me mantinha longe. Do meu lado da cerca. Impossibilitada de entrar na sua vida, no seu mundo.
E mais uma vez, percebi que todas as promessas que me fez eram vazias, unicamente com a intenção de abrir caminho entre todas as minhas confusões e incertezas. Aliás, como todos os que te antecederam, e exatamente da mesma forma dos que ainda virão.

Isso me leva a questionar: quem eu sou? O QUE eu sou?
Um mistério a se desvendar, talvez. Uma curiosidade. Um sorriso intrigante. Uma voz convidativa. Um rosto que pede brincadeiras.
Apenas isso.

E, mais uma vez, eu olho para você, sabendo que você vai partir em breve - isso é, se já não partiu antes mesmo de chegar. Você tenta investigar meu silêncio, minha expressão saudosista. "O que foi? Por que você está calada?"
"Estou só desligada", eu respondo. Pura mentira, meu silêncio é um breve luto por mais uma chance que se foi, outro "não" que a Vida me dá. Um "não" precedido por um esperançoso "talvez".

E assim eu continuo a minha aventura, vendo sucessivas portas se fechando à minha saída. Não há esforço da minha parte capaz de evitar. Não há explicações plausíveis, não há previsão de mudança.
Sinto que a Vida esteja tentando me ensinar algo, e que eu estou com sérias dificuldades para absorver. Sei que estou perto.
Assim, continuo investindo em todos os "talvez", na esperança de que um destes se torne um "sim".

segunda-feira, 19 de maio de 2014

Don't let 'em in your head...

"Mãe, por que as pessoas prometem as coisas e depois não fazem?"

Essa foi a pergunta que eu fiz, no auge da revolta com meu pai, aos 7 anos. Eu estava cansada (sim, aos 7 anos) de lidar com a incoerência do ser humano.

Em algum lugar - provavelmente onde minha inocência se perdeu - as pessoas simplesmente pararam de agir como pessoas. Ninguém me chamava mais para brincar só por diversão. Eu só ganhava balas toffe em véspera de prova. Só sorriam para mim quando tinha trabalho em grupo. Só me chamavam para trocar figurinhas que faltavam no álbum.
Hoje, alguns anos mais velha, continua o mesmo, porém ninguém tem a hombridade de assumir, diferente de quando eu era criança.

Tudo bem, é da natureza humana tentar fazer o necessário para sobreviver. Mas será que é só para isso que eu sirvo? Para fazer favores?
Será que é demais pedir um contato, mínimo que seja, pura e simplesmente pelo que eu sou? Um afeto incondicional, uma conexão pura?

Tantas promessas quebradas... Mentiras... Ilusões... Jogos emocionais...
Estou cansada e descrente, só isso. Quero poder voltar a brincar de salva-bandeira sem me preocupar com o pedido chantagista que virá depois.





domingo, 18 de maio de 2014

Most of what you see, my dear is worth letting go...


"Everyone is seems has somewhere to go
And the faster the world spins, the shorter the lights will glow
And I'm swimming in the night, chasing down the moon
The deeper in the water, the more I long for you

Most of what you see, my dear, is purely for show
Because not everything that goes around
Comes back around, you know?
Holding on too long is just a fear of letting go
Because not everything that goes around
Comes back around, you know?

One thing that is clear: it's all downhill from here...

The loveline in your hand, cleverly disguised
All the promises of stone, crumble in the light...

Most of what you see, my dear is worth letting go...
Because not everything that goes around
Comes back around, you know?
Holding on too long is just a fear of what to show
Because not everything that goes around
Comes back around, you know?

One thing is clear: it's all downhill from here..."




Acho que dispensa explicações.



Música: Like Clockwork, por Queens of the Stone Age
Album: ... Like Clockwork (2013)

Does anyone ever get this right?

Hoje, eu olho ao redor, e tudo o que eu vejo é dor condensada.

Está nos olhos das pessoas, no ar que eu respiro, nas vozes vazias, nas palavras não ditas.

Não neguem: tudo é dor. Os carros conduzidos por pessoas egoístas, o stress de uma fila de banco, o olhar vago dos passageiros nos ônibus. As fotos apelativas nas redes sociais, o comportamento estereotipado e, muitas vezes, sem nexo algum.
Tudo é dor. Aquela dor antiga, crônica. A dor da falta ou do excesso de algo. Da perda - ou muitas vezes, da presença de alguém. A dor que guardamos lá no fundo, escondendo até de nós mesmos. Ou até a dor que queremos mostrar, mas todos fecham os olhos, desligam os ouvidos, e trancam os corações para não verem. A dor que negamos existir, que volta e se manifesta de outras formas - socialmente aceitáveis.

Cada um tem a sua dor. Não importa o que causou ou o que a alimenta. O que importa é que, na ânsia de vivermos, nos forçamos a ser felizes a qualquer preço. Bens materiais, uma mesa cheia de amigos, casamentos e filhos, ibobe em mídias sociais, álcool, música - tudo isso são caminhos que as pessoas percorrem atrás da tão sonhada felicidade. Não dá para condená-los. Nem mesmo aqueles que buscam felicidade na dor alheia. A dor nos faz chegar ao desespero, e é aí que tentamos de tudo o que sabemos - e até o que desconhecemos - para nos livrar dela.

E, esta ingrata, por mais que realizemos nossos objetivos, permanece ali. Às vezes latente, em stand by. E aí pensamos: "finalmente, sou feliz". Mas alguns poucos ainda sabem que ela está só esperando, sentem que algo está errado...
Eis que, quando estamos no topo da montanha-russa, no auge, ela resolve reaparecer, lembrando-nos que somos falhos e incompletos. Lembrando-nos de nossos fantasmas, nossos medos.

Não há como negar. Nem o mais feliz dos seres se livrou do pontinho escuro que reside ali no âmago da alma. E, infelizmente, jamais se livrará.

quarta-feira, 23 de abril de 2014

Príncipe Sem Rosto

"Mais um caso de amor para o arquivo morto. Durou pouco mais de três dias (ah, eu e meus padrões). Suspensa por um favor, a situação se alongava. Um passaporte. Que irônico, uma analogia entre a permissão para imigrar pra onde quer que fosse e a minha posse do documento era o que ainda nos ligava.
Pois bem, hora de voltar ao projeto inacabado de construção do Príncipe Sem Rosto. Um alívio que eu tenho para mim e para manter um pouco de esperança. Meu Frankenstein que se baseia em qualquer característica minimamente atrativa, momentânea ou que me fascine há muito. Talvez esse protótipo de homem me mantenha longe da realidade e me impulsione a se afastar dela ainda mais. Quem sabe será ele a fonte dos meus males e fraquezas. Matar o príncipe pode ser a solução. Sepultado ele segurará meu olhar rumo ao vazio, em seu aguardo. Um eterno retorno que se estende pelos anos que me engole.
O Príncipe Sem Rosto é assim chamado pois não é ninguém e é todos ao mesmo tempo. Vislumbro sua face conforme meus humores (e amores) se alterando conforme o outro lado do leito esfria. Às vezes busco um rosto antigo nas seguranças das lembranças por mim moldadas, fruto dos meses que se tornam anos e perdura o que eles tinham de agradável. Imortalizado te faço em minha memória, teu melhor eu retenho e teu defeito desfaço."




Por: Moisés Vieira

domingo, 19 de janeiro de 2014

How did it come to this?

Duas da manhã, todas as luzes do prédio vizinho estão apagadas. Nos meus ouvidos, guitarras, baixo e bateria. O cheiro dos lençóis me invade, me fazendo pensar como devem ser macios os seus. Me fazendo desejar estar entre eles e você. Há uma foto sua aqui, e ela me atrai com uma frequência maior do que eu gostaria de admitir. Você me atrai de uma forma que eu não gostaria de admitir.

Dizem que eu tenho uma intuição forte, e um raciocínio melhor ainda. De fato, quando meus alarmes disparam, é melhor correr. Algo disparou - mas foram alarmes diferentes.
Não foi difícil vencer minhas barreiras e driblar minhas defesas, certo? Mantive a guarda baixa, como um animal ferido, rendido. E em pouco tempo, me recuperei - mas você já tinha implantado seus vírus no meu sistema imunológico. O jogo estava ganho, e quase nenhum esforço foi feito da sua parte.
Você se divertiu, não foi? Poucos dias, e brincando, já desnudou minha alma. Tão cedo, você descobriu muitas das minhas fraquezas, explorou-as. E eu permiti.

E gostei.

Me deixei levar pelo carisma malicioso, pelo sorriso de soslaio. Joguei fora meus escudos, e deixei você me invadir... Afinal, nada tinha a perder. Uma estratégia covarde, alguns diriam; se aproximar do inimigo em um momento de fraqueza, para dá-lo o golpe de misericórdia. Mas não somos inimigos, somos? E, convenhamos, este xeque-mate está sendo muito prazeroso para o meu rei derrotado. Quase como morrer em uma montanha russa.

Ah, como foram doces as palavras que ouvi enquanto era fatalmente golpeada. Convenientemente ditas, quase colocadas em locais escolhidos a dedo, em momentos propícios. Carregadas de signos, desprovidas de pudor. Violentamente escancaradas, para me jogar aonde você queria. Sinceras ou não, pouco importa. O que convém é que você conseguiu o que queria: me domou e me derrubou a seus pés, ansiosa para servir a teus propósitos. Pronta para representar o papel que me designar, ou mostrar-me no mais visceral dos realismos.
 Mas até lá, vamos continuar jogando este jogo de cartas marcadas, com um fim inesperadamente previsível. Simplesmente pelo prazer de jogar.


Porém, mr. Writer, não se esqueça... Sei o suficiente sobre você para fazer ainda pior do que fizeste. Entregastes tua estratégia de defesa para mim.
Aguarde... Quando estiver em minhas plenas faculdades, será ainda mais doce jogar contigo.
E te garanto que neste jogo, todos ganham.

sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

What light?

Houve um tempo, aonde dentro de mim existia uma pessoa controlada. Eu sabia, com precisão, tudo o que acontecia comigo (e o porquê). Todos os horários, pensamentos, reações. Meu corpo era uma máquina com propriedades incríveis de autorreparo - incluindo o gerenciador de todas as atividades: o cérebro. Porém, ao passar dos meses, os problemas surgiram. Em uma sociedade tomada por rivotril e valium, não faz sentido existir alguém com habilidade intrapessoal. 
"Você precisa ser menos racional, eles disseram. Menos isso, mais aquilo... Nada estava nos conformes, jamais. Eu sempre estava inadequada.

Eis que, aquele meu grande sonho de criança, parecia possível; isto é, caso eu seguisse as sugestões que ouvia. E eram tantas, e tão variadas... É difícil não se confundir com as diversas teorias e opiniões.
E naquela ânsia por me tornar parte de tudo, eu me perdi. E me tornei parte de um nada. 
Me tornei um nada.

Perdi todo o controle de tudo, e nunca mais retomei. E eu não sei viver sem ter o controle. Assim, de uma hora para a outra, o caos exterior (que tanto me acalmava) tornou-se interno, indissociável. Eu me tornei uma tempestade de verão - repentina, imprevisível, e devastadora.
Então, eu atingi um estágio crítico, aonde eu não fui capaz de controlar sequer minhas palavras. Qualquer pluma pesava como um planeta em meus ombros, como se a pressão atmosférica fosse o suficiente para espremer até a última gota da minha sanidade.
E foi assim, tentando ser uma pessoa normal, que eu arruinei a minha vida.

Eis que eu decidi reaver o controle sobre mim mesma. Um ano de árdua caminhada, pontuada por tombos frequentes. Um ano de privações e concessões - contando apenas comigo mesma. E, quando tudo finalmente parecia ter se encaminhado...



"What light could you have discovered,
So bright no one else could see?
This time, there will be no buffers
No right standing over me...
(you say there's a light)
Somebody has to come by
(you say there's a light)
To keep you always on time
(you say there's a light but i cannot see it)
And make you pay for your oversights
Oh my, oh my..."