terça-feira, 17 de maio de 2011


"Olha, eu sei que o barco tá furado, e eu sei que você também sabe. Mas queria te pedir para não parar de remar, não. Por que te ver remando me faz não querer parar também."

Caio Fernando Abreu





Obrigada. Mesmo.







You know I believe, and how...

"Eu me sentia cada vez mais nervoso. Os minutos passavam lentamente, como se quisessem me separar daquele momento, que para mim, era crucial.

Passei a me sentir lento e atordoado, como eu me sinto em dias frios. Comecei a me perguntar se eu deveria realmente ter convidado-a a vir comigo, a partilhar um pouco do meu mundo - que era tão parecido (mas ao mesmo tempo tão distante) do mundo dela. Será que ela gostou do convite, ou só viria por ser educada? Ou melhor, será que ela viria?


Então, ela subiu as escadas, bem lentamente, como quem reconhece o território. Como se quisesse amplificar o efeito daquilo tudo em mim. E devagar, fui reparando cada detalhe dela.
Era tão diferente vê-la assim...


O mesmo cabelo, mas dessa vez, solto. O olhar mais casual e curioso que de costume. O mesmo relógio de estimação, o mesmo jeito de andar. Estava com uma camiseta de banda, uma blusa xadrez por cima, calça jeans, all star vermelho.

Mas o sorriso estava diferente. Ah, aquele sorriso.
E para meu desespero, o sorriso ficou ainda maior e mais iluminado, quando ela me viu, encostado esperando.


E naquele dia, eu compreendi aquela música, a Something."

Since.



E o som do blues invadia seu cérebro, como se nada mais houvesse no mundo. Nada mais importava, a não ser as batidas que faziam seu corpo balançar, em transe.
Havia o cheiro de algo que ela não identificou, de algo que nem quis saber o que era. O gosto cinzento, mas doce. O corpo doía, os pelos se eriçavam.

Sentiu que qualquer brisa levaria sua alma para bem longe, ou para bem perto, não importava. Desde que a levasse.
O corpo estava leve, a cabeça zumbia com o barulho do vento, mas a consciência.... Ah, esta era a âncora, a única coisa que ainda a prendia ali.

Assim como as wiccas, sentiu na pele aquele brilho imponente e suave, sozinho e prateado. Sentiu, assim como sua pele sentia o calor da luz do sol, sentiu o frio da luz da lua.

Mas sempre que elogiava a lua, se lembrava de alguém. E sabia que não ia se desvenciliar disso tão facilmente.





Ah, Ártemis... Porque?




quarta-feira, 4 de maio de 2011

"Aí começa a rir da minha cara de bunda cheia de mágoa e meu cheiro de quem dormiu quase um ano inteiro por causa de uma biscate. Não sei qual a graça e você diz que não posso ver graça, justamente porque estou perto demais de mim mesmo pra dar risada da situação. Diz que todo mundo que é normal tem disso, é uma coisa temporal, depois o calor vem e enxuga a dor. Mas porque mesmo não gosta de mim? Você insiste em querer saber, escondendo com a franja a intensa fragilidade por trás dos olhos.

Agora falando sério, não podemos se beijar e nem nada, porque ainda com todas aquelas coisas em comum, você me olha apaixonada e eu ainda só consigo te olhar triste. Então, se você não quer ser picada em pedaços e depois ser embrulhada assim como eu, aproveita a chance que estou dando, vai embora e vê se desiste de mim. Mas não, teimosa demais, debochada demais, me oferece uma respiração boca-a-boca e me diz que vai ficar mais um pouco, porque se todo mundo terminar o que não começou ninguém nunca vai chegar a lugar comum."



Gabito Nunes
"Penso, logo não sinto, não vivo, não amo. Sua afeição é pelas experiências plásticas, pelas projeções enganosas. Apaixona-se por estar apaixonado, pela virtuose de amar. Mas no fundo não gosta de ninguém, desconhece que amar é dividir, aceitar, ceder, adorar e o mais importante: deixá-lo acontecer. O amor é maior que você, logo dá as cartas e a gente obedece prestando reverência subalterna. Amém. Do contrário, ele passa a vez aos mais interessados. Sai sem dizer que hora volta."


O tudo que sobrou - Gabito Nunes



Está aí, pra quem não acredita no que eu digo.