segunda-feira, 27 de maio de 2013

Da Paola dos 13, para a Paola do futuro.

Era um 2006 um tanto tumultuado. Um dos melhores anos da minha vida. Finalmente eu me sentia parte integrante de alguma coisa, estava na escola dos meus sonhos, tinha amigos, me orgulhava das minhas notas.

Então, fiz 13 anos. Ali, naquela semana, alguma coisa mexeu comigo, algo me ocorreu, e eu percebi para o que tinha nascido. Da mesma forma, infelizmente, percebi o que o mundo era, e o que ele poderia fazer comigo.

Assim, com medo do que eu podia me tornar, me escrevi uma carta. A única que eu escreveria diretamente para mim. Usei as palavras que eu sabia que funcionariam - porque, acontecesse o que fosse, a minha essência não mudaria, mesmo que todo o resto fosse diferente.

Em uma explosão de maturidade permeada pelos resquícios de uma esperança infantil, eu disse:

"Quando você ler isso, já terá um emprego, uma renda, e quem sabe uma família. Jamais se esqueça de seu brilhante passado: seus estudos, seus amigos, seus presentes, sua família que te ama (apesar de tudo). Nunca se esqueça: você teve casa, comida, roupas, estudo, cultura, lazer, saúde, opções...
Mas tem pessoas que não tiveram isso. Mesmo assim, elas agradecem aos céus por simplesmente viver. Parece estranho, mas agradecem.
Não sei se você lembra, mas uma vez, sua mãe contou uma história muito triste sobre um morador de rua, que não tinha nada, estava tremendo de frio e com muita fome, pegando mangas na rua, desesperado. Nesse dia, você ficou horas chorando por ele, e por todos os que não tinham o que comer, como se proteger da chuva, do frio, e das pessoas cruéis. Então, você prometeu que assim que tivesse condições, ajudaria todas as pessoas que pudesse, com roupas, comida, casa, escola, e tudo o que fosse preciso.

E por isso que eu escrevi essa carta. Quero te pedir que cumpra sua promessa e saia por aí ajudando as pessoas, mas você não pode esquecer que isso tem que ser de coração.

Faça isso por eles. E se você não conseguir sozinha, chame outras pessoas que gostam de ajudar. Juntos vocês conseguem.

Espero que você nunca se esqueça da sua promessa, nem das suas origens. E nem do que você foi um dia.


Eu sei que você lembra. Busque na memória, você verá.
Goiânia, 17 de outubro de 2006"



Tudo o que posso dizer, é que eu nunca me esqueci de quem eu fui, e que cumpri a promessa. E vou continuar cumprindo todos os dias, até o último.
Mas agradeço a mim mesma por me lembrar que, embora todos esses anos tenham sido obscuros, houveram momentos belos como esse.

quarta-feira, 8 de maio de 2013

So, live and let die.

Havia uma grande expectativa em torno daquela segunda feira. Dez dias de preparação, esquemas de segurança e trânsito montados especialmente para o evento.

da minha parte não posso dizer o mesmo. Não fiz "esquenta", não me ative a locais e horários. Não ouvi músicas, não decorei letras - muitas eu sabia de cor. Não me preparei fisicamente, e muito menos mentalmente. Mas por quê?

Há cerca de seis meses, minha vida tem passado por uma fase intensa de marasmo e questionamentos. Esse conjunto, que muitos podem avaliar como algo desejável, perturbou minha mente de uma forma tão profunda, que me levou a ser algo que eu nunca fui, algo que eu nunca quis ser.
Fui forçada a conhecer partes de mim que eu ignorava e/ou temia, fui levada próximo ao limite da minha razão. Meu corpo já não queria mais abrigar meus pensamentos. Eles, por sua vez, eram insatisfeitos com o organismo que os mantinha, mas agora se revoltava tão violentamente.

Eis que, em algum momento, alguém me disse que eu precisava de um recomeço, uma vida nova.
"Esqueça seu passado, seus traumas. Deixe para trás seus dias gastos na escola, nas bibliotecas, na faculdade. Abandone os sentimentos de remorso, arrependimento, raiva e autopunição. Deixe para trás aquela vida vermelha-e-cinza, recomece do branco, pinte um caminho mais colorido."

Mas faltava aquele impulso, aquele momento que marca "o primeiro dia do resto da minha vida".

Me arrependi de não me preparar fisicamente: haviam dores por todos os lados de mim em determinado momento.

Mas alguma coisa aconteceu naquela segunda feira. Eu sabia que algo aconteceria. Não só comigo - mas com todas as 45 mil pessoas que estavam ali ao meu lado. Com luzes, sons e significados, minha noite foi marcada por algo que nem mesmo todo o dicionário poderia explicar.

Ali, eu entendi: Não é possível se preparar para tal momento, ele simplesmente acontece. Não é preciso, pois nem todo texto precisa ser recomeçado após apagar todas as palavras.
Ali eu recomeçava.



"Blackbird singing in the dead of night,
Take these broken wings and learn to fly.
All your life,
You were only waiting for this moment to arise.

Blackbird singing in the dead of night,
Take these sunken eyes and learn to see.
All your life,
You were only waiting for the moment to be free.

Black bird fly, black bird fly
Into the light of the dark black night..."