terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Gentle impulsion.

No meio do caos, tentamos apenas sobreviver. Nos esquecemos das coisas pequenas, aquelas que nos fazem seres humanos. Nos esquecemos do voo dos pássaros, das cores do céu no poente.Esquecemos de respirar, e de realmente pensar. Apenas raciocinamos, o tempo todo.
Mas a vida não é só raciocinar, é também sentir. Isso não é deixar de ser racional. Pelo contrário.

Esquecemos os nossos valores, nossos princípios, nossas vontades, nossas vocações. Esquecemos de quem realmente importa, do que realmente importa. Esquecemos que os músculos da face também servem para sorrir, e que por sua vez, os músculos dos braços também conseguem abraçar.

Esquecemos que quem mais precisa pode ser exatamente aquele que não pede ajuda. Olhamos as coisas com tanto foco, que perdemos a visão periférica. Nos esquecemos que há causas maiores que aquela que abraçamos, por mais nobre que ela seja.

Esquecemos que nem tudo possui uma explicação. Na verdade, sim, tudo tem um porque... Mas existem coisas que são tão simples, ou tão complexas, que nossos olhos jamais detectarão, nossa mente jamais acompanhará.
Esquecemos que não precisamos ter tudo sob rédeas firmes... Perder o controle algumas vezes é a melhor opção - ou é isso, ou se perde a sanidade.
Esquecemos que o mundo não cabe nos nossos braços, que ele precisa de um pouco mais do que podemos oferecer. Esquecemos que não podemos oferecer tudo, embora muitas vezes essa seja a vontade.

Esquecemos que, por mais perfeita que esteja a visão, nem sempre é o olhar correto. Por mais lúcida que seja a mente, nem sempre é a decisão mais sensata. Por maior que seja o conhecimento, nem sempre ele forma o melhor conceito. Esquecemos que são as coisas imprevisíveis que fazem o hoje diferente do ontem.


Nos esquecemos que a maior prova de carinho e confiança não está em um texto, um abraço, um sorriso ou uma atitude - mas sim, no olhar, ou na lágrima que teima em ali permanecer.


E de repente, nos damos conta de que esquecemos do que é viver.

domingo, 20 de novembro de 2011

Nobody ever seems to remember: Life is a game, we play.

Os seres humanos são criaturas engraçadas.
Apesar de possuírem um telencéfalo altamente desenvolvido (alguns nem tanto), eles não conseguem perceber coisas óbvias - e muitas vezes, cruciais.

Pedimos, sonhamos, queremos. Corremos atrás, tentamos, fazemos. E quando finalmente chega a recompensa, a interpretamos de forma errada. Talvez por estarmos cansados de tanto buscar, talvez porque não estamos prontos para recebê-la, apesar do caminho árduo percorrido.

Fantasiamos uma situação, e esperamos que aquilo ocorra. Na maioria das vezes, só depende de nós -  e essa maldita cena imaginada nunca se repete na realidade.
Será que não? Será que tudo aquilo que sonhamos realmente não aconteceu, ou está ali, esperando para ser percebido e interpretado?
Ficamos tão cegos na busca por uma vida mais perfeita possível, que não conseguimos enxergar que a felicidade está a um palmo do nosso nariz, basta esticar o braço para alcançá-la.

E quando finalmente abrimos os olhos, o tempo passou. Continuamos seguindo em frente, e deixamos a felicidade para trás.


Ah, mas não dessa vez. Para mim, ainda há tempo.


"Hello, hello...

It's good to be back!"

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Everybody is looking for something.

E você percebe que está encarcerado em uma situação da qual não consegue se soltar. A única saída é gritar até que alguém te ouça.


E em seus pensamentos, você imagina alguém passando ali, por um acaso, e ouve seus gritos. E vê alguém entrando no quarto escuro, acendendo a luz, desamarrando a corda, e perguntando o que houve. E na cena em que a pessoa chama a polícia e te acalma enquanto você sai do estado de choque, uma voz ressoa bem alto em sua mente, dizendo:


"Sabe quando isso vai acontecer, Paola? É, você sabe."

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Aquilo que não coube nos Classificados.

Um cidadão caminhava na calçada, olhando para o chão mais a frente, sofrendo sua tempestade cerebral de costume. Eis que em determinado ponto, por algum acaso, ele para em frente a um poste, e olha para ele.
Curiosamente, havia uma folha pregada no poste, com algumas palavras escritas. E seu hábito vicioso venceu - o homem resolveu ler o que estava escrito.




PRECISA-SE DE UM AMIGO

A quem estiver lendo este anúncio, gostaria de oferecer uma proposta.
Precisa-se de um amigo, com urgência.
O cargo não exige experiência, nem qualificação. O candidato deve apresentar certas características, como paciência, perseverança, lealdade, sinceridade e compreensão. Não precisa saber trabalhar em equipe, desde que saiba trabalhar em dupla.
A carga horária é de 168 horas semanais, e o indivíduo poderá ter direito a feriados, férias, períodos de descanso durante o dia, alimentação na casa do empregador, e demais benefícios a discutir.
A função consiste, principalmente, em ouvir. 
Requer disponibilidade de tempo para conversar e passear no parque, ir ao cinema, ou simplesmente estar ao lado do empregador.
Aceita-se todos os tipos de pessoa - não exclui-se raça, idade, sexo, antecedentes pessoais/profissionais/criminais.
Em troca, o candidato ganhará gratidão eterna, presentes de natal, e um coração remendado.

Caso a proposta não seja do agrado, aceita-se qualquer tipo de negociação.
Se  interessado, entrar em contato com a máxima urgência. Não há entrevista ou processo seletivo, a contratação é imediata. 



O homem se lembrou que ainda tinha créditos no celular, e agradeceu ao acaso por tê-los reservado para alguma necessidade.




"Precisa-se de um amigo que diga que vale a pena viver, não porque a vida é bela, mas porque já se tem um amigo. Precisa-se de um amigo para se parar de chorar. Para não se viver debruçado no passado em busca de memórias perdidas. Que nos bata nos ombros sorrindo ou chorando, mas que nos chame de amigo, para ter-se a consciência de que ainda se vive." - Vinicius de Moraes

domingo, 6 de novembro de 2011

I'm learning to Walk again.

As pessoas podem pensar que eu tenho um buraco negro no lugar do coração, ou que eu sou racional demais. Acontece muito.
Mas olha, é verdade. Só que tudo tem um motivo.


Na Integração Sensorial, existe uma classificação das crianças quanto ao seu limiar de sensibilidade. 
E eu me cansei de ser sensível demais. Me cansei de ver o mundo sorrindo por fora, e chorando por dentro. Com o tempo, eu mesma não conseguia mais sorrir por fora, de tanto ver esse tipo de coisa. Isso não ia ser bom, eu sabia, mesmo com - sei lá - 7 anos de idade.


Tudo me fazia chorar nessa época, eu me lembro. Uma criança abandonada na rua, um cachorro mancando, um idoso sentado solitário no banco da praça. Acho que a pergunta que minha mãe mais ouvia de mim era: "Mãe, por que tudo tem que ser assim, tão triste?"
Ela sempre me respondia que a vida era muito dura, que o mundo não poupava nem mesmo os pássaros, que tinham que abandonar seus ninhos para tentar a sorte na chuva. Que isso servia para ensinar as pessoas a serem Humanas.
Me perdoe, mãe, a senhora estava enganada.


Até hoje as coisas são tristes, talvez até mais que antes. Mas eu vejo cada vez menos Humanos na Terra.
Vejo pessoas, não vejo Seres Humanos. Pessoas que matam, pessoas que não dão seta nos carros e atropelam crianças, pessoas que bebem e ofendem os outros, pessoas que roubam e se acham certas, pessoas que mentem, pessoas injustas, pessoas egoístas, pessoas fracas que se acham fortes, pessoas que não conversam olhando nos olhos de outras pessoas (que se sentem aliviadas por isso).
E várias outras pessoas que fazem coisas piores que isso.




 Eu, uma vez, quis ser médica, pra salvar as vidas, fazer a dor das pessoas parar, pra ver se viravam Humanos, quando a dor passasse. Outra vez, quis ser professora, pra ensinar às pessoas a serem Humanos. Uma outra, quis ser juíza, para mostrar o quanto é errado ser uma pessoa, e que o certo é ser Humano.


Ah, como eu era sensível.
E todos sabem o que acontece com pessoas sensíveis. Elas se machucam, quebram fácil seus ossos. Se arranham e sangram com mais frequência. Gripam todo mês. 
Depois, elas crescem, e veem que a vida é dura, mas não ensina nada pra ninguém. E constroem uma muralha ao seu redor. E guardam seu coração em um banco, nas Ilhas Fiji. E desativam todos os 7 sentidos.




Mas por alguma razão, alguém descobriu minha conta nas Ilhas Fiji, e furou um buraco na muralha. Os sentidos foram despertados, todos os 7.
E eu voltei a ver o mundo por dentro.


Agora, eu me vejo na mesma situação de um paciente que sofreu AVE (coisa que as pessoas também não fazem, até que passem por isso).


I'm learning to Walk again. I'm learning to Talk again.


Você sabe o quanto isso é difícil? Tente imaginar. Agora eleve à nonagésima terceira potência.







"A million miles away
Your signal in the distance
To whom it may concern
I think I lost my way
Getting good at starting over
Every time that I return


Learning to walk again
I believe I've waited long enough
Where do I begin?
Learning to talk again
Can't you see I've waited long enough
Where do I begin?"

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

"Just see roses, and see roses in the rain..."

Faz um tempo que não passo por aqui. As coisas tem sido meio corridas nos últimos meses. E intensas também.


Intensas, a palavra certa.




É meio estranho quando você choca seu passado com o seu futuro - isso tudo no presente. Aquilo que passou, que deveria ser sua base, seu ponto de apoio, te mostra que o futuro não será um lugar mágico, por mais que você tente construí-lo assim. Porque tudo é parte de um plano-mestre, nada depende exclusivamente de você.


E é tão difícil liberar as aderências de cicatrizes antigas... Dói muito, leva tempo, despende de força, habilidade, paciência, e técnica - coisas que na maioria das vezes você não tem disponíveis naquele momento. Mesmo que inconscientemente você saiba que faz bem, sempre há aquela fase de proteção máxima, que seu corpo fecha as defesas, e não deixa que nada funcione.


E te faltam nutrientes, te falam neurotransmissores, te falta sono, e disposição física. Seu corpo não aguenta aquilo sozinho, e ele sabe disso, mas teima em não aceitar ajuda de ninguém, de nada que venha de fora. Ele quer, mas não aceita. Por que, ein corpo?


E você vê o edema, você sente a dor, e você sabe que um Ultrassom pulsado resolveria tudo aquilo. Sabe até os parâmetros certos. Mas não pode aplicar em si mesmo, porque seu braço não alcança a parte do corpo que dói.


E de repente, como se não quisesse nada, a vida sente remorso por fazer aquilo contigo, e resolve te ajudar.
Um sorriso, um obrigado. Um elogio, um olhar. Uma imagem, uma música. Uma pessoa, um incentivo. O antiinflamatório que veio na hora certa, para amenizar sua dor e te devolver as esperanças de que, sim, um futuro mágico é possível.


Sem faltas, sem exageros... na medida certa, na posologia ideal.
E como dizia Shakespeare, as pessoas que te dão a mão para te ajudar a se levantar, possivelmente serão aquelas que você achava que te empurrariam para baixo.


E assim, com pequenas peças coloridas do Lego da sua sobrinha, você vai construindo o caminho até seu castelo, que também será de Lego. Se não der certo, reposicione-as, sempre estará em tempo para consertar uma peça fora do lugar.
O caminho, e o castelo, podem ser como você quiser, no tamanho que você desejar. E como são de Lego, você pode refazê-los quando achar necessário. Só depende da sua vontade de construir.


E mesmo que você não se lembre de cada momento, de cada peça que colocou no lugar (ou que colocaram para você quando suas mãos estavam inchadas e doendo), você pode olhar para trás, e ver aquela imensidão de peças - algumas coloridas, outras cinzentas; algumas brilhantes e impecáveis, outras meio opacas e desgastadas.
E com essa paisagem em seus olhos, você pode pensar por dois ângulos: ou você se foca nas peças opacas, desgastadas e cinzentas (que podem até ser a maioria), ou você pode deixar as cores te chamarem atenção, até começar a embaralhar as vistas, de tanta informação visual.
Não importa que peças você escolhe ver, desde que a última peça que você coloque, seja aquela que vem com o sorriso do boneqinho.




E mesmo que apenas uma pequena parte do caminho, ou do castelo, seja colorida...


Bem, você pode se orgulhar desse pedaço colorido. Porque, se você parar para pensar, é ali que está sua verdadeira base para o restante da construção.






E com vocês, uma música que ilustraria bem tudo isso:









"As we saw oh this light I swear you, emerge blinking into
To tell me it's alright
As we soar walls, every siren is a symphony
And every tear's a waterfall."

domingo, 11 de setembro de 2011

E mesmo no melhor dos dias, na melhor das hipóteses, ainda haverá aquela frustração.
Ah, como seria diferente se tudo tivesse andado como eu queria....


Desista, Paola... Seu tempo já passou, alguém te superou.
Você nunca mais terá momentos assim, oportunidades assim. Seu caminho não tem paradas como aquelas, e não há como voltar.

Agora é seguir em frente, e aceitar que se frustrar faz parte da vida.

domingo, 28 de agosto de 2011

This is bigger than us. (I hope so)


Uma vez, eu disse a um amigo, que acreditava sim em um juízo final. Em minha teoria, todos responderiam sim por cada ato de suas vidas, mas o juri seria a consciência de cada um - caberia a você mesmo decidir se merecia ou não a paz eterna.

A questão, é que nem mesmo nessa justiça eu acredito mais. Nem na dos homens, nem na "de Deus", nem na justiça própria. 
Não tem explicação lógica para o que se vê acontecer aqui. 


Eu costumava pensar que é tudo 'parte de um plano mestre', ou que tudo acontece por uma causa maior - o que é diferente de acreditar em destino.




Mas nem esse pensamento me consola mais. Se for ou não tudo "bigger than us", já não importa mais.
 Eu não quero que seja, foda-se se é por uma causa maior. Já sofri mais que devia por isso. Chega, por favor. Não tem mais graça brincar assim.







"I don't need your tears, I don't want your love,
I just gotta get home...

And I feel like I'm breaking up, and I wanted to stay,
Headlights on the hillside, don't take me this way,
I don't want you to hold me, I don't want you to pray.

This is bigger than us."


Bigger than us - White Lies


segunda-feira, 22 de agosto de 2011

But that was all.

He put a note in my pocket,
said "be good to yourself"


and that was all.


Life being what it is,
We all dream of revenge.
Open your eyes for a second,
Just to roll them at me!


I stared straight into the sun,
Something to concentrate on...


And if you turn it on you'd find,
I've written you a thousand times...
You would do anything,
You'd give up everything for,
God knows why!


I just can't stay till your gone,
I won't wish you well,
I won't see you off,
I won't try to call if I see you in my mind...
I´ll say to you it's not your fault.


You said I'll see you in September,
But that's not long enough for me.


You put a note in my pocket,
So that it would take care of me...




But that was all.






Life being what it is - Kaki king



É engraçado como às vezes, uma música que inocentemente apareceu no modo aleatório do seu player, poder definir grande parte da sua vida.

terça-feira, 9 de agosto de 2011

E como minha mãe diz...

"Mente vazia, moradia do diabo."




Conversando com o professor que faz as triagens da clínica escola:


- Gustavo, tem alguma criancinha? eu quero muito tratar alguma criança.
- Não, não tem. Mas tem um caso lá de cortar o coração, de tumor em cervical.
- É esse mesmo que eu quero, manda pra mim. Por favor.




É isso, eu quero sair desse mundo, quero me estressar, quero chegar ao meu limite, quero desafios.


Porque eu não quero alugar minha mente para hóspede tão indesejado.

quarta-feira, 27 de julho de 2011

'Cause I can feel the storm clouds coming...


"And thoughts of going under
And is it any wonder
When the sea calling out to me...



I'm watching my TV
Or is it watching me?
I see another new day dawning
It's rising over me, with my mortality
And I can feel the storm clouds
Sucking up my soul."




The death of you and me - Noel Gallagher

And tell me to go away.

"It's these times that it tends,
To start to break in half,
To start to fall apart
Oh hold on to your heart.


Do me a favour, and break my nose...
Do me a favour, and tell me to go away...
Do me a favour, and stop asking questions...


How to tear apart the ties that bind?
Perhaps 'fuck off' might be too kind."








Do me a favour - Arctick Monkeys

Promessas.

Segundo o dicionário Aurélio, Promessa é "O compromisso de fazer, dar ou dizer alguma coisa", ou uma "esperança que se funda em aparências". 

Ah, as promessas. Tão fortes, tão cheias de si. Tão racionais, carregadas de certezas e saberes. São à elas que recorremos para garantir que algo será previsto, em um futuro tão incerto. 

Acho que precisamos disso para continuar. Eu, ao menos, preciso. Preciso prometer certas coisas pra mim mesma, preciso acreditar que cumprirei, preciso ter certeza de que algo estará sob controle - principalmente agora.

segunda-feira, 18 de julho de 2011

You know how I feel.

A voz da Ana, as recomendações da minha mãe, a garganta apertada da noite anterior, o castelo de Winterfel. Tudo rodeava minha cabeça, ofuscando o que eu senti durante meses. 

E por fim, chegou a hora.
Era a mesma coisa de sempre. Os carros passavam, nós rodeavamos as rotatórias, e tinha aquele aroma de flor de maçã. Eu tremia, como de costume quando minhas mãos ficam paradas. Ele falava ao meu lado, incansavelmente, as pessoas atravessavam a rua, os sinais mudavam de cor.


Mas dessa vez, eu estava sentada no banco esquerdo do carro.



"And this old world is new world, and a bold world for me..."

quinta-feira, 14 de julho de 2011

To the middle of nowhere.


"I think I'll get outta here, where I can run just as fast as I can,
To the middle of nowhere, to the middle of my frustrated fears...
And I swear - you're just like a pill: Instead of making me better, you keep making me ill..."






Pink - Just like a pill

quarta-feira, 13 de julho de 2011

I'm sincere.

"I'd give all that I have just to keep you near...
I wrote you a letter and tried to make it clear, but you just don't believe that I'm sincere.

Plans and schemes, hopes and fears...
Dreams i've denied for all these years.

I've been thinking about you baby..."




Live With Me - Massive Attack

segunda-feira, 11 de julho de 2011

Eu tinha a estranha sensação de conhecê-lo mesmo antes de nascer. 
Assumo que me perdi no caminho, que fui tão diferente daquilo que te prometi... Fui má, egoísta, mimada, racional demais. Fui pequena, fui infiel, não cuidei da minha saúde mental, e menos ainda da física. Fui invejosa, fui indecorosa, fui triste, fui medrosa, fui desobediente, fui insolente, fui insensata.

Mas senti falta de você. Todo esse tempo, senti.
Acredite em mim, e aceite minhas desculpas. Faça com que eu me sinta como eu me sentia antes. Isso você faz tão bem...

Embale minha alma, ou aquilo que ainda resta dela. Reduz as batidas do meu coração, sintoniza meu cérebro, desacelera meus pensamentos. Devolve a sensibilidade da minha pele, umedece de novo meus olhos, desfaz o nó da minha garganta. 
Me faz ser aquela menina sonhadora, delicada e sorridente, aquela garota prodígio dos pais, a coleguinha que os meninos da escola atentavam, mas não saiam de perto. 
Traz de volta minha infância, aquela que não me deixaram ter.
Estou com medo de seguir adiante, o caminho é um declive escuro, solitário, no meio do nada... E sem volta. Espanta meu medo, ou me leva de volta para aquele tempo, em que éramos melhores amigos, inseparáveis... eu sabia o que seu tom significava, e você traduzia tudo o que eu sentia, era tão bonito...

Eu prometo não te abandonar mais, se você prometer me ajudar. Eu preciso de você agora, mais do que naquela época, mais do que nunca...



quinta-feira, 30 de junho de 2011

Still.

Sim,  eu sei o que disse. Falei que retomei as rédeas, que apertei a sela, que calcei as esporas. Não menti, eu realmente estou de volta na direção desse veículo, com a bússola consertada.

Mas não há como esquecer. É como diz aquele texto do Gabito: "É fácil seguir em frente pra quem não tem razões pra olhar pra trás, pra quem não tem visão periférica ou mesmo o costume de olhar os lados alheios."

Você ainda está presente em mim, em muito de mim. Você está naquele blues incrível e melancólico que permanece nos meus ouvidos, mesmo que eu insista em ouvir uma, duas, três discografias inteiras. Está naquele CD com uma vaca na capa, cujas músicas estão agora passando no meu player. Você está naquele livro que me recomendou, que eu peguei emprestado e já devolvi, mas não consigo esquecer de cada detalhe da capa, nem daquela parte que arrepiou minha pele, que me deu o nó na garganta.
Você está no meu guarda roupa - na minha blusa de frio, na minha camisa xadrez, na minha blusa dos Beatles, no meu tênis com cadarços de coração, no short largo que mostra meu joelho valgo, hiperestendido, rodado internamente, e extremamente feio.
Você está no chocolate com essência de laranja ali em cima da cama, está no leite com achocolatado que eu tomei de manhã, está na Club Social de Nachos que a Fernanda fretou para mim, está no purê de batatas que eu fiz no almoço. 
Você está no Kendall e no Magee que repousam abertos sobre minha cama, rodeados por folhas de chamex rabiscadas com uma letra bem feia. Você está nos jalecos que eu coloquei para lavar, junto com minha calça branca - é melhor preparar tudo por precaução, vai que eles insistem com as roupas brancas.
Você está no boddy splash com cheiro de flor de maçã que eu passo todos os dias depois do banho. Está no vento que bate gelado na minha pele, sem me fazer sentir frio, me lembrando do dia em que eu te vi pela primeira vez. Está nos frangos que o Rogério Ceni toma, nas notícias sobre futebol inglês e volei brasileiro que passaram na hora do almoço.
Está comigo antes que eu vá dormir, e depois que eu realmente adormeço. Dia ou outro, você invade meu sono REM, fazendo com que os sonhos pareçam reais, possíveis, diferentes daqueles que eu sonho acordada todos os dias.
Eu leio um texto, vejo um vídeo, uma foto ou uma tirinha, um videoclipe. E imagino você rindo disso. 'Eu sabia que você ia gostar, lembrei de você na hora que vi. A propósito, li um artigo esses dias para trás, queria que você desse uma olhada.'
Eu vejo seu nome relacionado com quase tudo do meu cotidiano. Nas novas cordas do Rorsharck, na franja que insiste em cutucar meu olho esquerdo, no meu tema de monografia, na liga acadêmica, no meu pó compacto quebrado que eu consertei com álcool e paciência.

Eu vejo você sim, nunca neguei isso. Mas agora, vejo de uma forma diferente. Menos melancólica, menos pessimista. E não quero deixar de te ver, porque essa seria a condição para crescer e continuar sozinha. Eu sei que te disse que queria voar com minhas próprias asas, mas é que eu preciso de um trem de pouso, de alguém para sinalizar a pista lá embaixo, de um paraquedas, caso as coisas não funcionem como deveriam.
Você não vai ser meu co-piloto, daria muito trabalho para ambos. Mas você sabe como é, uma mulher prevenida vale por duas.

Acho que seria demais pedir para você nunca me decepcionar. Seria pedir para você tentar fazer o impossível -  e eu sei que você tentaria. Mas uma coisa você pode fazer, sem muito esforço: esteja aqui, em algum lugar do meu hipocampo. 
Fique aqui, até que o Alzheimer chegue com o tempo, e te mande embora. Mas aí, eu já terei ido embora com você.

Mãe, eu preciso saber.

Mãe, eu preciso saber. Preciso crer que tenho sorte. Preciso provar que sou mais homem do que me ensinaram a ser. E se nada for do jeito que imagino, guarde um sonho fresquinho pra mim ou pelo menos aquela bendita força que você sempre mostrou. Pretendo usá-la para nunca dar meu braço a torcer.


Trecho do texto “Tudo que meu pai não soube ser” - Gabito Nunes

domingo, 12 de junho de 2011

Oh, I will.


“I said, Papa someday I’m gonna write a symphony
48-piece band all dressed up like me
I said, I’ll write someday the satyrs of old songs
I’m gonna chill the marrow in their bones
But as long as I can’t get Into Carnegie Hall
I keep writing songs, that are all my own
Very simple and dumb, like I always have done.
If you like them, yeah!
But if you don’t, too bad…
‘Cause it’s all I have.”



Little Joy - How to hang a Warhol

Sutil.

Uma frase sincera, sem más intenções. Essa foi minha kriptonita, que eu pendurei em meu pescoço, e mantive por meses.

Ah, um sério engano.

Foi como a faca da história de Pullman. Encontrou um ponto instável, e sutilmente, abriu uma fenda, que depois de tornou uma janela entre dois mundos distintos. Janela que eu não consegui fechar. Talvez eu não quis, ou não soube - não importa agora. Ela já está fechada, e espero que não se abra novamente.
(Sei que alguém não ficará feliz com isso. Vários alguéns, para ser sincera.)

Acho que agora eu sei de onde saiu o impulso de autodefenestração.
Seremos só eu e a Fisioterapia daqui em diante, por tempo indeterminado. Está na hora de desenvolver a inteligência interpessoal.

Espero que ninguém tenha deixado outra janela aberta, não quero mais os espectros no meu mundo.

terça-feira, 7 de junho de 2011

.

Tá, eu sei. Não precisa falar pela 56ª vez.
Eu sei disso tudo.

O caminho é longo, árduo. Os números são muitos, os cálculos complicados. o risco é grande, o medo é maior ainda.
E tem a morte. Sempre presente, todos os dias até.


Mas vocês não entendem? É isso que eu quero. Quero virar em um plantão de 24 por 48 horas. quero enxugar o suor da testa depois de tantas manobras. Quero sentir meus braços fadigando. quero me atualizar em cursos a cada 6 meses. Quero reclamar do meu salário, sempre buscando mais. Quero ter que explicar para o paciente, quero ter que encarar a família.
Quero consolar a perda, quero enxugar as lágrimas, quero ouvir o lamento final dos acamados terminais.
Quero chegar em casa com dores, cansada, estressada talvez. Quero não ter tempo. Quero viver de jaleco e luvas esterilizadas.
Quero ouvir os BIPs dos monitores cardíacos o dia todo.

Quero salvar muitas vidas em um dia, quero salvar uma vida muitas vezes.


Sabe quando um simples aumento da PaO2 faz seus olhos se encherem de água?
Sabe quando uma SatO2 sobe de 71% para 90% e te faz suspirar aliviado?

Não?

Não, vocês não entendem. Ninguém nunca vai entender. Mas por favor, já que vocês não vão conseguir compreender, só aceitem. Não contestem.

Você já amou alguma vez?

Você já descobriu o sentido da vida?
Eu já. Eu descobri o sentido da minha. E isso devia bastar. Para todos.





sexta-feira, 3 de junho de 2011

"Não,

-Não, eu não estou com frio.

- Mas olha o vento, olha só a temperatura que o termômetro está ...

- Eu já te expliquei que eu sou diferente. Meu frio é diferente.

- Mas... Então, quando você sente frio?

- Você já leu "A Margarida Friorenta"?

- Já.

- Pois é.





"Porque tudo o que eu preciso, tudo agora e pra sempre, me espera atrás dessa porta."




Por favor, me diz que é verdade, me faz acreditar que não será como as outras ilusões.

terça-feira, 17 de maio de 2011


"Olha, eu sei que o barco tá furado, e eu sei que você também sabe. Mas queria te pedir para não parar de remar, não. Por que te ver remando me faz não querer parar também."

Caio Fernando Abreu





Obrigada. Mesmo.







You know I believe, and how...

"Eu me sentia cada vez mais nervoso. Os minutos passavam lentamente, como se quisessem me separar daquele momento, que para mim, era crucial.

Passei a me sentir lento e atordoado, como eu me sinto em dias frios. Comecei a me perguntar se eu deveria realmente ter convidado-a a vir comigo, a partilhar um pouco do meu mundo - que era tão parecido (mas ao mesmo tempo tão distante) do mundo dela. Será que ela gostou do convite, ou só viria por ser educada? Ou melhor, será que ela viria?


Então, ela subiu as escadas, bem lentamente, como quem reconhece o território. Como se quisesse amplificar o efeito daquilo tudo em mim. E devagar, fui reparando cada detalhe dela.
Era tão diferente vê-la assim...


O mesmo cabelo, mas dessa vez, solto. O olhar mais casual e curioso que de costume. O mesmo relógio de estimação, o mesmo jeito de andar. Estava com uma camiseta de banda, uma blusa xadrez por cima, calça jeans, all star vermelho.

Mas o sorriso estava diferente. Ah, aquele sorriso.
E para meu desespero, o sorriso ficou ainda maior e mais iluminado, quando ela me viu, encostado esperando.


E naquele dia, eu compreendi aquela música, a Something."

Since.



E o som do blues invadia seu cérebro, como se nada mais houvesse no mundo. Nada mais importava, a não ser as batidas que faziam seu corpo balançar, em transe.
Havia o cheiro de algo que ela não identificou, de algo que nem quis saber o que era. O gosto cinzento, mas doce. O corpo doía, os pelos se eriçavam.

Sentiu que qualquer brisa levaria sua alma para bem longe, ou para bem perto, não importava. Desde que a levasse.
O corpo estava leve, a cabeça zumbia com o barulho do vento, mas a consciência.... Ah, esta era a âncora, a única coisa que ainda a prendia ali.

Assim como as wiccas, sentiu na pele aquele brilho imponente e suave, sozinho e prateado. Sentiu, assim como sua pele sentia o calor da luz do sol, sentiu o frio da luz da lua.

Mas sempre que elogiava a lua, se lembrava de alguém. E sabia que não ia se desvenciliar disso tão facilmente.





Ah, Ártemis... Porque?




quarta-feira, 4 de maio de 2011

"Aí começa a rir da minha cara de bunda cheia de mágoa e meu cheiro de quem dormiu quase um ano inteiro por causa de uma biscate. Não sei qual a graça e você diz que não posso ver graça, justamente porque estou perto demais de mim mesmo pra dar risada da situação. Diz que todo mundo que é normal tem disso, é uma coisa temporal, depois o calor vem e enxuga a dor. Mas porque mesmo não gosta de mim? Você insiste em querer saber, escondendo com a franja a intensa fragilidade por trás dos olhos.

Agora falando sério, não podemos se beijar e nem nada, porque ainda com todas aquelas coisas em comum, você me olha apaixonada e eu ainda só consigo te olhar triste. Então, se você não quer ser picada em pedaços e depois ser embrulhada assim como eu, aproveita a chance que estou dando, vai embora e vê se desiste de mim. Mas não, teimosa demais, debochada demais, me oferece uma respiração boca-a-boca e me diz que vai ficar mais um pouco, porque se todo mundo terminar o que não começou ninguém nunca vai chegar a lugar comum."



Gabito Nunes
"Penso, logo não sinto, não vivo, não amo. Sua afeição é pelas experiências plásticas, pelas projeções enganosas. Apaixona-se por estar apaixonado, pela virtuose de amar. Mas no fundo não gosta de ninguém, desconhece que amar é dividir, aceitar, ceder, adorar e o mais importante: deixá-lo acontecer. O amor é maior que você, logo dá as cartas e a gente obedece prestando reverência subalterna. Amém. Do contrário, ele passa a vez aos mais interessados. Sai sem dizer que hora volta."


O tudo que sobrou - Gabito Nunes



Está aí, pra quem não acredita no que eu digo.

sábado, 30 de abril de 2011

Cansei.


Decidi que não vou mais correr atrás.

Cansei de estar lá sempre que precisa, e precisar sem ter apoio.

Cansei de perguntar, me interessar, sugerir, tentar ajudar - e não receber sequer um boa noite espontâneo, livre.

Cansei de sentir a garganta se enrolar, os olhos pesarem, o coração doer -
e olhar para você esperando que você dissesse um 'oi' diferente, uma frase qualquer de consolo.

Chega de ser o ombro amigo, chega de ser a válvula de escape.




Tudo tem limites. Chega de você.

“Eu estava me sentindo muito triste. Você pode dizer que isso tem sido freqüente demais, ou até um pouco (ou muito) chato. Mas, que se há de fazer, se eu estava mesmo muito triste? Tristeza-garoa, fininha, cortante, persistente, com alguns relâmpagos de catástrofe futura. Projeções: e amanhã, e depois? e trabalho, amor, moradia? o que vai acontecer? Típico pensamento-nada-a-ver: sossega, o que vai acontecer acontecerá. Relaxa, baby, e flui: barquinho na correnteza, Deus dará.”






' Caio Fernando de Abreu

terça-feira, 19 de abril de 2011


She knows that if she ever breaks free
That she will never see the light of day
She's been blinded by the stars and dreams she craved
And if they ever let her go
She still be bound to all her fears
And all the medicine they forced her to take

They found her in the basement facing east
Howling wolves and inhailing beast
Were strangling every little dream she had in there
And if she ever finds her way
They will haunt her through the day
Until she breaks and then becomes one of them, cause

On and on and on she goes
On and on and on she goes
But she will never ever ever find love
Unless she takes on a fight
Along with the northern light...






She knows, that if she ever let go
She will only loose her soul
There's no way out of this hell.




(Never seen the light of day - Mando Diao)



"Sei lá, tem sempre um pôr-do-sol esperando para ser visto, uma árvore, um pássaro, um rio, uma nuvem. Pelo menos sorria, procure sentir amor. Imagine. Invente. Sonhe. Voe. Se a realidade te alimenta com merda, meu irmão, a mente pode te alimentar com flores."



Caio Fernando Abreu

segunda-feira, 18 de abril de 2011

One Match.




"It only takes one tree,
to make a thousand matches.
Only takes one match,
to burn a thousand trees."









(A Thousand Trees - Stereophonics)

Oh, I wish.


"We're just two lost souls
Swimming in a fish bowl,
Year after year,
Running over the same old ground.

What have we found?
The same old fears.

Wish you were here..."











(Wish You Were Here - Pink Floyd)