domingo, 6 de novembro de 2011

I'm learning to Walk again.

As pessoas podem pensar que eu tenho um buraco negro no lugar do coração, ou que eu sou racional demais. Acontece muito.
Mas olha, é verdade. Só que tudo tem um motivo.


Na Integração Sensorial, existe uma classificação das crianças quanto ao seu limiar de sensibilidade. 
E eu me cansei de ser sensível demais. Me cansei de ver o mundo sorrindo por fora, e chorando por dentro. Com o tempo, eu mesma não conseguia mais sorrir por fora, de tanto ver esse tipo de coisa. Isso não ia ser bom, eu sabia, mesmo com - sei lá - 7 anos de idade.


Tudo me fazia chorar nessa época, eu me lembro. Uma criança abandonada na rua, um cachorro mancando, um idoso sentado solitário no banco da praça. Acho que a pergunta que minha mãe mais ouvia de mim era: "Mãe, por que tudo tem que ser assim, tão triste?"
Ela sempre me respondia que a vida era muito dura, que o mundo não poupava nem mesmo os pássaros, que tinham que abandonar seus ninhos para tentar a sorte na chuva. Que isso servia para ensinar as pessoas a serem Humanas.
Me perdoe, mãe, a senhora estava enganada.


Até hoje as coisas são tristes, talvez até mais que antes. Mas eu vejo cada vez menos Humanos na Terra.
Vejo pessoas, não vejo Seres Humanos. Pessoas que matam, pessoas que não dão seta nos carros e atropelam crianças, pessoas que bebem e ofendem os outros, pessoas que roubam e se acham certas, pessoas que mentem, pessoas injustas, pessoas egoístas, pessoas fracas que se acham fortes, pessoas que não conversam olhando nos olhos de outras pessoas (que se sentem aliviadas por isso).
E várias outras pessoas que fazem coisas piores que isso.




 Eu, uma vez, quis ser médica, pra salvar as vidas, fazer a dor das pessoas parar, pra ver se viravam Humanos, quando a dor passasse. Outra vez, quis ser professora, pra ensinar às pessoas a serem Humanos. Uma outra, quis ser juíza, para mostrar o quanto é errado ser uma pessoa, e que o certo é ser Humano.


Ah, como eu era sensível.
E todos sabem o que acontece com pessoas sensíveis. Elas se machucam, quebram fácil seus ossos. Se arranham e sangram com mais frequência. Gripam todo mês. 
Depois, elas crescem, e veem que a vida é dura, mas não ensina nada pra ninguém. E constroem uma muralha ao seu redor. E guardam seu coração em um banco, nas Ilhas Fiji. E desativam todos os 7 sentidos.




Mas por alguma razão, alguém descobriu minha conta nas Ilhas Fiji, e furou um buraco na muralha. Os sentidos foram despertados, todos os 7.
E eu voltei a ver o mundo por dentro.


Agora, eu me vejo na mesma situação de um paciente que sofreu AVE (coisa que as pessoas também não fazem, até que passem por isso).


I'm learning to Walk again. I'm learning to Talk again.


Você sabe o quanto isso é difícil? Tente imaginar. Agora eleve à nonagésima terceira potência.







"A million miles away
Your signal in the distance
To whom it may concern
I think I lost my way
Getting good at starting over
Every time that I return


Learning to walk again
I believe I've waited long enough
Where do I begin?
Learning to talk again
Can't you see I've waited long enough
Where do I begin?"

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