quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Quando o problema pode ser a única solução.

E cada gota de água que caia parecia ter o peso de um ano inteiro. As gotas caiam frias, insensíveis, despreocupadas com a sensação que causavam.


Sentiu como se um milhão de agulhas a espetassem ao mesmo tempo. O mundo girava, tremia, ela não conseguia levantar os braços para se segurar.
Deixou-se cair no chão, suavemente, sentindo as gotas insensíveis. Colocou a cabeça entre as mãos, para tentar fazer com que o mundo parasse de girar. Mas ele girava, e girava cada vez mais rápido.

Mesmo com o tempo em 38°C, ela sentia frio. Seu corpo tremia, sua cabeça doía. Seus olhos não queriam se abrir, suas mãos não queriam se separar da cabeça. Mas as gotas insistiam em cair. Ela sabia que aquilo iria fazer bem, mais cedo ou mais tarde.
O ar desaparecia, as coisas paravam de fazer sentido. Era como ficar presa dentro de si, em um ambiente desconfortável, instável, e que não queria funcionar.


E as gotas caíam.


De repente, tudo parou. O ar voltou, o mundo parou de girar. As agulhas cessaram seus ataques, o frio passou. E as gotas tornaram-se quentes, compreensivas. Ela sabia que isso iria acontecer.

As gotas pararam de cair. Vestiu-se, foi até o espelho. Ela sabia o que ia acontecer.


Levantou o olhar, e viu aquilo que previa:
Seus olhos.

Mas não eram olhos comuns, eram seus olhos.

Os olhos mais lindos que já havia visto. Seus olhos favoritos, sua parte favorita do corpo. ["posso estar sendo parcial, mas estou incrivelmente certo", disse Chris Martin.]


Hoje, eles não estavam bonitos. Mas ninguém reparou em nada.

Ninguém viu que eles estiveram fundos, de preocupação.
Ninguém viu que eles estiveram vermelhos, de falta de sono.
Ninguém viu que eles estiveram maiores e mais redondos, como se procurassem ver algo que não viam.
Ninguém viu que eles estiveram tristes e cansados, o que não é comum.
Ninguém viu que eles estiveram secos, tentando ignorar a situação.
Ninguém viu que eles estiveram cheios de água, tentando neutralizar a seca.
Ninguém viu que eles estiveram feios o dia todo, como não costumavam ser.
Ninguém viu que eles estiveram apavorados, refletido aquilo que ninguém iria ver de forma alguma.
Ninguém viu que eles queriam se fechar, para se abrir apenas quando tudo passasse.


Mas ela viu tudo isso.

E as agulhas voltaram a fazer seu corpo arder, e o mundo voltou a girar.

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