quarta-feira, 3 de julho de 2013

E agora?

Eu olho no espelho, e custo me reconhecer.
Meus olhos estão escuros, meus cabelos ressecados. Meu rosto é só espinhas, meu corpo é só estrias.
Estrias e dores, dores de músculos que não aguentam mais a tensão, o peso que precisam carregar.
Minha postura já não é ereta, meus ombros estão caídos, minhas costas curvas. Meus olhos apontam pra baixo, minha cabeça pesa mais a cada dia.
Eu caminho como quem não quer caminhar, como quem precisa carregar um peso que ninguém vê. O peso da derrota, da tristeza, da vergonha.
Minhas roupas estão quase sempre amarrotadas, destoadas, deslocadas. Já não me arrumo mais, já não quero mais.

Eu olho no espelho, e recuso a me conhecer.
O que foi feito daquele olhar forte e destemido, daquele sorriso leve e determinado? Aonde foram parar a graça e a destreza, a lógica e a velocidade que caracterizavam meus pensamentos? O que aconteceu com a vontade, com a garra, com a alegria de viver cada minuto?

Eu fecho meus olhos, não quero mais ver. Mas o espelho ainda está ali, por mais que eu relute a aceitar.
Daí eu sinto. Sinto meu corpo pesado, desequilibrado. Sinto minha cabeça zunir e doer, girar e pifar. Sinto meus braços dormentes, minhas pernas sem força. Sinto tremores, calafrios. Meus órgãos não funcionam mais - meu pulmão não capta oxigênio, meus rins dormiram, meu estômago se revira com facilidade. Meu coração quase fibrila. E meu cérebro...
Ah, este é o que mais sofre.

Eu abro os olhos, tentando fugir do que encontrei aqui dentro.
Então percebo que tudo se embaça, nada mais faz sentido. Nada mais justifica estar aqui, nada mais parece capaz de mudar tudo - nem eu mesma.

Então, desesperada, eu olho para cima, para a janela.
E me pergunto:

"E agora?"

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