sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

Fly, fly to the stars.


As portas dos outros apartamentos batiam raivosas, descontando os empurrões que as rajadas de vento lhes davam. Tocava alguma música calma no home theater, que se confundia com os sons reconfortantes dos carros passando na rodovia. A casa tinha cheiro de bolo recém-assado, haviam trovões iluminando o céu cinzento.

Mas nenhum dos sentidos gritava tanto quando o tato. Tudo o que acontecia ao redor importava menos que o frio trazido pelo vento forte. Então, abriu mais a janela, subiu na cama, fechou os olhos… E voou.

Por um instante, pensou ter pulado. Esperou o choque contra o chão, os gritos de algum voyeur que estivesse se satisfazendo naquele momento. Esperou o trauma, a escuridão. Aguardou aquele sentimento que se tem quando o ser abandona sua vida, as lágrimas ao redor de seu inerte e modesto corpo. Mas nada disso veio. O chão não chegou, e muito menos o fim. Então se deu conta que seus pés ainda tocavam o colchão, e que o voo, na verdade, era só o vento que passava veloz agitando seus cabelos.

Fazia frio, pela primeira vez em muito tempo. Estranho, frio no verão.

E por alguma razão, havia ali uma lágrima, insistente, ousada. Corria mansa e destemida junto ao nariz, e parecia aquecer o corpo inteiro. Ela era um sinal de descontrole, desequilíbrio.
Havia alguma coisa errada, mas o quê? Talvez tudo estivesse errado, ela sabia.
As lágrimas foram sucessivas, encorajadas por aquela desbravadora, que parecia ter sumido há tanto tempo.
Percebeu que não tinha forças para compreendê-las. Ou melhor, não tinha forças nem para secá-las.
Deixou-se cair no colchão atrás de si, descomposta, exausta.
“Voar cansa”, pensou. “Mas não há melhor maneira de chegar ao topo, quando não se consegue usar as pernas.”

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