sábado, 7 de setembro de 2024

"Who watches The Watchmen?"

Já faz um tempo que minha vida está uma loucura. Mudei de emprego (de novo). Agora. posso ir a consultas e exames. Tenho me esforçado para cumprir "pequenas" tarefas. Saí novamente da minha "zona de conforto" - se é que já estive em uma alguma vez na vida.

Mais uma vez, foi necessário abrir mão de coisas, lugares e pessoas que me faziam bem, e eu precisei me adaptar a uma outra realidade. Recomeçar.

Recomeçar é uma constante na minha história. Falhar, encerrar, voltar, parar - e depois recomeçar. Cair e levantar. Várias vezes. Muito rápido. Diversos recomeços ao mesmo tempo.

E está tudo bem. De verdade. Isso não me assusta.


Mas percebi algo: tantos recomeços exigem muito de mim. A consequência é que eu não consigo parar e entrar em contato comigo mesma. Daí, eu adoeço. O medo e as inseguranças voltam. E, por estar ocupada com o recomeço e longe de mim mesma, eu demoro perceber que minhas rachaduras estão se abrindo de novo.

E, então, eu começo a me sentir sozinha.


Desde muito pequena, a solidão me acompanha. Ainda que cercada, nunca deixei de estar sozinha. Mesmo nos momentos felizes, mesmo recebendo afeto e atenção. Tanto as dores quanto as vitórias - das maiores às mais insignificantes. Meus esforços, sentimentos, medos e sonhos. Minhas transformações, descobertas, traumas, aprendizados. Meus recomeços.


Tudo o que vivi, tudo o que senti. Tudo o que eu sou. Toda a minha existência se fundamenta em um fato:

Eu sou só.


Agora eu entendo a dor constante que sentia, que nunca passava. Entendo porque cometi a maioria dos meus erros, porque machuquei pessoas, porque adoeci tantas vezes, porque tentava tanto ao ponto de ultrapassar meus próprios limites. Era medo de seguir sendo só.

Agora, entendo todos os meus adjetivos. Introspecção, autonomia, independência, proatividade, dedicação, persistência, resiliência, escuta, empatia, racionalização, perfeccionismo, autoexigência. Eu nunca pude dividir, atribuir, perguntar, discutir. Eu não tive escolha, a não ser descobrir e fazer tudo sozinha.

Hoje entendi porque conceitos como coletividade, parceria, colaboração, lealdade, diálogo, companheirismo, partilha e incondicionalidade são tão importantes para mim, e porque tento tanto persegui-los. Afinal, eu não pude experimentá-los plenamente.

Eu não me orgulho de nada disso. Se pudesse, viveria de forma totalmente diferente. A solidão dói, incapacita, cega, enviesa, maltrata, mata. Sim, ela ensina - mas existem outras formas menos miseráveis de aprender. Ser só é sofrido, triste, pesado. E não há ninguém para ajudar a passar por isso. Ninguém vai ensinar a lidar com as consequências de estar só. Não há bússola, e ainda que houvesse, não há alguém que mostre como usar.

Não me orgulho, mas não me envergonho. Tampouco me vitimizo. Até porque, nada disso veio por escolha consciente minha ou de quem quer que seja. Simplesmente aconteceu, como muitas coisas na vida.


Evidentemente, eu não gosto de ser solitária. Me incomoda, me faz reviver experiências que eu gostaria de esquecer. Me pego, às vezes, agindo com imaturidade, ansiosa ou levianamente, na tentativa de fugir da solidão.

Mas em respeito a mim mesma, está na hora de admitir que a solidão é parte de mim. Um traço da minha personalidade, um pedaço da minha história. E está aqui há tanto tempo, tão profundamente, que já cristalizou. Não é possível remover ou mudar.

Me cabe, agora, apenas aceitar, entender, e lidar com essa parte de mim. E, quem sabe, aproveitar e aprender a tratar com carinho a pessoa solitária que sou.


Ah, e apenas para constar: me dei conta disso tudo - é claro - sozinha.